Monday, June 01, 2009

O poder da criança


Filmes! Como disse anteriormente, pensar através de suas mensagens é um exercício desejável. Para alguns, inevitável.
Mais uma vez, venho de uma seqüência de dois filmes que se completam. “O Menino do Pijama Listrado (2008)” e “Vermelho como o Céu (2006)”.
Sendo direto e esquivando-me das críticas técnicas que tenho lido sobre os filmes, apesar de muito poucas, atentei para uma luz que estas estórias nos apresentam. Ambas tratam de crianças. O primeiro, baseado em um romance homônimo, trata de um ingênuo e mimado garoto, filho de um soldado nazista de alta patente, que, sem saber de quem se tratava, fica amigo de um judeu de sua idade, 8 anos. O segundo, uma estória verídica de um bem sucedido editor de som da Itália que, na década de 1970, aos 10 anos de idade, sofre um acidente doméstico em que perde a visão e é mandado para uma escola especial para cegos, em Gênova. Eis minhas “conclusagens” (conclusões e viagens).
Vendo o primeiro filme, O Menino do Pijama Listrado, penso que o preconceito dos mais variados tipos pode muito bem ser solucionado com a ingenuidade da criança. Ao se tornar amigo de um judeu, o menino estava despido, pelo menos por enquanto, de toda a educação nazista da época. Enquanto seu professor, sua irmã, seu pai, seu avô, em fim, todos, empurravam-lhe um conceito consensual sobre a maldade do povo judeu, o garoto, ao conversar com seu amigo, não percebia isso. E o desfecho do filme consagra uma amizade impossível. Imagino que, trazendo à realidade, poderíamos pensar que muitos conceitos formados em casa, com ajuda dos pais, parentes e professores, poderiam ser diferentes. Imaginem uma nação em que crianças ricas e pobres, negras e brancas, saudáveis ou com alguma espécie de deficiência, bonitas ou feias, em fim, se todas as crianças convivessem harmoniosamente num espaço universal, em que não houvesse escola de ricos e pobres, não houvesse ambientes para diferentes classes sociais, em que os serviços de saúde comportassem a todos com qualidade e quantidade suficientes. Por mais que, em casa, os pais, munidos de uma educação conservadora e preconceituosa, falassem, desvirtuassem os filhos, a vivência mostraria o contrário e essas crianças seriam capazes de crescer entendendo que a diferença entre eles e as outras crianças é que eles estão tendo vivências diferentes. Quando adultos, essas crianças, conscientes desta vez, seriam capazes de entender que a mudança do mundo está na solidariedade e na não afetação do outro para seu próprio crescimento. Ajudariam não por caridade ou massageamento do ego. Ajudariam por gostarem e se identificarem com essas pessoas.
Bom, e quanto ao “Vermelho como o Céu”? Esse serve como contraprova para aqueles que pretendem insinuar que as crianças não têm capacidade de discernimento e inteligência para mudarem o mundo desde já, necessitando da instrução dos pais. Ele nos mostra que a capacidade de mudança inerente à infância é muito maior e mais eficiente do que em qualquer adulto.
É ver para entender. Recomendo muito ambos os filmes.

1 comment:

Maria Fe said...

"A infância é medida por sons; cheiros e imagens, antes da obscura razão aparecer".
Essa frase do início do filme diz tudo né. A ingenuidade, a pureza, a simplicidade das crianças devem ser o combustível do mundo. Infelizmente na maioria dos casos crescer significa ser cego, seguir uma "racionalidade irracional".
Viver num mundo sem preconceitos é utopia, mas ainda acredito em seres capazes de transformar nem que seja uma pequena parte desse castelo que é a vida. Enxergar com olhos de criança!