Wednesday, July 12, 2006

Rotinas

Abro os olhos.
Escovo os dentes, faço meu lanche, visto minha roupa, passo desodorante, tranco a porta, confirmo a trancada, fecho o portão, confirmo a trancada.
Pego o ônibus, dou "bons dias" desconhecidos e inreflexivos, chego ao trabalho, dou "bons dias" pensando no "até amanhã".
Sento, levanto, atendo, converso, vendo, varro, limpo, organizo, telefono, vou ao banco, e na volta deste sento num banco, fumo um cigarro, me sinto livre, volto ao trabalho, onde repito até as inconveniências, dou "até amanhã" chateado com os "bons dias" do dia seguinte.
Chego em casa, abro o portã, fecho o portão, abro a porta, fecho a porta, tomo banho, faço a barba, como alguma coisa, leio um livro, assisto a um filme, deito, fecho os olhos... durmo.
Abro a porta, fecho a porta, abro o portão, fecho o portão. A preocupação com a tranca é inexistente. Pego o ônibus, dou "bons dias" satisfeitos, reflexivos, prazerosos e sinceros. Todos respondem, uns com mais, outros com menos, mas todos com alegria.
Sento levanto, descanso. Sou reconhecido e valorizado. Todos são normais, as ruas são espaçosas, as bolsas são expostas, os relógios são de pulso, o banco da praça é mais valorizado que qualquer outra espécie de banco. O negro é negro, o branco é branco, e a criança... apenas criança. O amor é sincero, a moral e a ética reinam, o etnocentrimo é calado, a cultura prevalece.
Chego em casa, a televisão já está ligada em alto volume. Abro os olhos. De volta à realidade.
Versatilidade

Eu sou o que quero para mim.
Eu sou o que querem que eu seja
Eu sou aquele que falta muito para ser algo,
Eu sou aquele que já fez tanto que já é muito,
Eu sou a melancolia em pessoa
Eu sou a alegria que entoa cantos de alegria
Eu sou poético, hematopoético, caquético, hermético, médico
Eu sou figura retorcida pelas mentes abstratas das pessoas inexistentes
Eu sou um complexo de incógnitas
Eu sou Feliz, triste, espontâneo, introspectivo, bonito, feio
Eu sou o que interpretam que eu seja.
Eu sou 6 bilhões de 'eu´s'.
À Procra do Meu "eu"

Quero saber quem eu sou
Como é o meu "eu"
Por isso, páro em frente ao espelho
Na esperança de ver minha vida refletida
Junto à minha imagem.
Cabisbaixo, pego no papel e no lápis
E agora pretendo escrever o que sou eu
A conslusão é triste e subjetiva...
Ao invés de metáforas e momentos
Sou um cara que procura num simples espelho
Toda a vida que já vivi.

Monday, July 03, 2006

Apelo contra Fome

Fome... palavra pequena, significados diversos. Para os ricos, fome é mera conseqüência da falta de tempo, rapidamente saciada num belo restaurante japonês. Para os pobres, estúpida conseqüência da falta de vergonha da humanidade como um todo, principalmente daqueles que nos governam. Mas se pararmos para pensar, analisar e nos autocriticar, chegaremos a uma conclusão tão imunda quanto à dos pensamentos neoliberais que governam nosso planeta.

Josué de Castro, pernambucano, médico, estudioso da nutrição humana, sociólogo, geógrafo, filósofo e político. Belo currículo para uma bela personalidade brasileira. Mas a principal atribuição que será dada a ele durante o futuro incerto da humanidade é sua formação humanista. Mostrou ao Brasil que tínhamos famintos. Mostrou ao mundo tínhamos fome. Se mostrar causasse impacto, teria alcançado facilmente seus objetivos. Mais que isso, precisou mostrar e correr atrás de respostas, de atitudes. Por isso, foi exilado. Mesmo de longe, continuou lutando.

Josué de Castro mostrou para a humanidade o que estava à nossa frente e não queríamos ver. Desatou nossos olhos para um mundo desigual, injusto e miserável. E mais que isso, provou que não era falta de comida que levava à fome. Contrariando a teoria malthusiana, Josué de Castro mostrou que passávamos fome por irresponsabilidade política. Foi o primeiro passo.

Passaram-se décadas, e ainda hoje a situação continua incerta. Fome: o que nós podemos fazer para mudarmos essa realidade? Aqui entra a conclusão que já foi afirmada no primeiro parágrafo. A fome é uma conseqüência de uma sociedade capitalista neoliberal, que como tal faz com que seres humanos se tornem humanóides uns para com os outros e transforma a vida, que deveria correr normalmente em paz e igualdade, em uma corrida pela sobrevivência própria, meramente própria. Temos sim culpa da fome no mundo a partir do momento que não fazemos nada para mudarmos a situação. Pensamentos do tipo “não sou culpado pela fome no mundo” é uma conseqüência de um sistema que engana, destrói, corrompe, mata. De maneira bastante sucinta, podemos concluir que se o capitalismo gera fome e nós alimentamos o capitalismo, oras, geramos fome. Se não podemos com o capitalismo, lutemos para que, pelo menos seus efeitos sejam menos devastadores.

Critiquemos o nazismo. Matavam apenas por matar. Por achar que judeus, homossexuais e negros não eram espécie humana. Critiquemos sim, mas não sejamos hipócritas. Os nazistas tinham plena certeza que estavam matando seres não humanos. Não desmerecem as críticas por esse fato, mas de certa forma, eles não estavam sendo hipócritas: expunham seu pensamento, por mais absurdo que para nós parecesse, e agiam em conformidade com sua ideologia. Agora nós sim somos hipócritas, pois sabemos que os que estão morrendo de fome são seres humanos. O que para muitos, não muda nada.

Paramos para pensar um pouco. Imagine que fosse feita uma pesquisa de opinião pública com 100% da população mundial a partir de uma única pergunta simples e objetiva: Você gostaria que a fome no mundo acabasse? Não temos dúvidas de que a imensa e esmagadora maioria diriam-se “humanista” e conclamaria um esbelto, orgulhoso e alto “Não”, “No, I Don´t”, “Non”, “He”, “όχι”... Todas as línguas se uniriam para proclamar o “não” à fome. Aí vem a pergunta: o que falta então para que a população faça sua parte? Informação? Vontade já sabemos que não é. Vontade todos nós temos.

Temos que parar de chorar. Temos que parar de ser apenas contra o imperialismo norte-americano. Temos que parar de apenas escrever textos como esse e partir para a luta. Lutar sabendo que não é obrigação nossa apenas salvar os famintos do mundo. O objetivo da nossa luta é mais amplo. É dar dignidade tanto aos que passam fome quanto a nós mesmos.