Saturday, August 22, 2009

Sobre eu, tu e eles e elas, vulgo nós


Têm vocês acompanhado os acontecimentos do Senado, que na verdade é apenas o locus de tudo, mas envolve todas as instituições brasileiras, desde o Palácio do Planalto até a instituição física e sobrenatural chamada "corpo", indivíduo, cidadão?

A causa dessa desordem é, como todos já sabem, imoralidade. O fato de o Conselho de Ética do Senado arquivar todas as denúncias contra Sarney nos faz pensar que eis aí a prova cabal de que nesse mato tem cobra. Se ele é inocente, tudo seria arquivado no seu devido momento: após averiguações. Se ele for culpado... bom, a punição já são outros quinhentos. Pensamos, então, que se eles realmente acreditam na inocência do amigo, não temeriam e investigariam. Conclusão: a preguiça falou mais alto do que dar a devida resposta ao povo brasileiro.

Faz-me rir a ironia paradoxal do argumento para o arquivamento: as denúncias surgiram no seio da imprensa. Isso é argumento? Eu que (ainda) sou um telespectador assíduo da TV Senado vejo discursos e discursos de senadores ferozes contra os governadores, prefeitos, deputados e vereadores de seus respectivos estados, com jornais nas mãos, fogo na boca, clamando por justiça e salientando as corrupções dos supracitados, que obviamente não são da sua base aliada muito menos de seu partido. É a imprensa sendo aclamada quando convém. Mas para o presidente do Senado, ai de nós considerar a imprensa para julgá-lo, criticá-lo, investigá-lo.

Mesmo com esse argumento, o pobre... digo, nobre senador, Paulo Duque, com seu sotaque ancião e de carioca malandro ao mesmo tempo, requereu apreciação do Conselho para o arquivamento. Aí é que entra a maracutaia. Quem dá mais? A base governista - e aí, meus amigos, inclui-se boa parte dos senadores do PMDB de Renan Calheiros (AL) e o PTB do ilustre ou ilustrado, polido e engraxado Fernando Collor - é a forca (não força) do governo. Lula está a mercê deles, assim como estaria Fernando Henrique ou Heloísa Helena, não importa. Eis, portanto, que os senadores petistas, contrariando seu líder no senado, Mercadante (SP), mas concordando com seus líderes mors (Lula, presidente da República, e Berzoíni, Presidente do Partido), votaram pelo arquivamento. Mercadante (SP) ficou no "saio e não saio" da liderança. Não saiu. Marina Silva (AC) e Flávio Arns (PR), dois simpáticos e bravos senadores petistas saíram do PT dizendo-se envergonhados. É uma prova de que algo cheira mal no (sub)mundo da política.

E a oposição? Parece que ficou quietinha. Ameaçou recorrer da decisão de arquivamento, mas quando viu que a merda também tava fedendo pro lado deles, especificamente pro líder peessedebista, Arthur Virgílio (AM), fez uma troca justa: eu não recorro, mas quero ser absolvido das minhas maracutaias. E o Conselho de Ética (atentem bem para essa palavra: "Ética") resolveu arquivar as denúncias contra ele também. É a justiça sendo usada para se fazer injustiça. Já que todos estamos podres, ninguém denuncia ninguém. Como crianças que quebram vidros de casas alheias jogando bola na rua e se tornam cúmplices de uma atitude errada.

De coerente, só o PSOL e alguns senadores, como Critóvam Buarque (PDT-DF) e Pedro Simon (PMDB-RS) que assumem sua opinião, muitas vezes de forma demagógica, é verdade, mas que a defendem como lhes convêm. Pois bem, o PSOL, de José Nery (PA), recorreu da decisão à mesa diretora da casa. Óbvio que foi negado, e nem foi pelo presidente, Sarney, nem pelo vice, Marcone Perilo (PSDB). Mas pela 2ª vice presidenta, Serys Slhessa"não sei o que" (PT). Assunto encerrado, ora bolas.

Pensar na eleição que se aproxima, é válido. Esquecer que você já foi eleito na eleição anterior, e que deve respeito à vontade dos eleitores é inválido. Uma coisa não anula a outra. Talvez (ou com certeza) mostrar serenidade e se colocar imparcial em denúncias graves e evidentes é uma forma de campanha eleitoral das mais eficientes. Ganha-se respeito, ganha-se debate, ganha-se legitimidade para ser votado.

Longe de mim falar em unicameralismo num país de proporções tão grandes e desigualdades entre seus estados tão acentuadas. O Senado é necessário. A Reforma política também. Mas isso se ouve com ouvidos críticos, e as palavras saem com tom de crítica construtiva. Mas quando eu ouço o demagogo dos demagogos, o Fausto Silva do Senado Federal, Mão Santa (PMDB-PI), 3º Secretário da Mesa que presidiu mais plenárias do que qualquer outro membro superior a ele, que elogia e condecora qualquer meliante que sobe à tribuna para falar, de Collor a Calheiros, passando por Sarney, me dá náuseas. Diz ele "nunca na história desta casa, ouve um Senado tão bom quanto este, uma mesa diretora tão boa quanto essa. Nunca, na história do Senado. E eu me orgulho de fazer parte dela". Ai de mim estar no lugar dele. E o pior é que, indiretamente, estamos todos.