Monday, June 08, 2009


Conclusões com oclusões


Passando os olhos pela TV Câmara, no início da tarde desta última segunda-feira, dia 08 de junho, me deparo com um interessante debate político num programa da emissora. Parei para assistir. Não só porque sentia o clima quente do debate, mas também porque um dos debatedores era Luiz Paulo Velloso Lucas, deputado federal pelo PSDB do Espírito Santo, meu Estado. Pensei “vamos ver o que ele diz em nome do povo capixaba!”. Não deu outra. A quantidade de asneiras que ele disse foi de uma magnitude que eu não conhecia. Ficou fácil para o outro debatedor, o deputado Fernando Ferro (se eu não me engano é esse o nome dele), do PT de Pernambuco, rebater. Tanto que durante a fala dele, o deputado capixaba não se continha e tentava reapresentar seus argumentos, atrapalhando o companheiro e desqualificando, tecnicamente e qualitativamente, o debate. A discussão permeava privatizações, crise mundial e Petrobrás. Como peguei o debate quase no fim, não saquei bem qual era o tema central. Mas o interessante é que dentre os argumentos do peessedebista havia uma ainda ilusão de um ideal de Estado mínimo (se possível, bem mínimo) e uma crítica ferrenha ao PT por ser contra privatização, sendo que, para completar, salientou que essa estória de Estado empresário é ultrapassada. O petista não precisou de muito para retrucar, dizendo que, só nos Estados Unidos (vejam! Estados Unidos... o mais fiel propagador do liberalismo), o Presidente Barak Obama já estatizou ou comprou ações de empresas e bancos em meio a uma crise que mostra cada vez mais como o liberalismo é ultrapassado e injusto com a grande maioria da população, ou seja, os pobres. Bom até aí, discursos ideológicos, não é? Não para o Velloso Lucas, que, insanamente, afirmou que o PT, ao contrário do PSDB, é repleto de ideologias! Páááára! O que faz um partido ser partido? E o que faz os partidos serem diferentes entre si? Exatamente sua ideologia, não? Óbvio que atualmente essa gama de partidos com ideologias confusas, ambíguas, atrapalham um pouco essa compreensão. Mas os partidos aqui citados, PSDB e PT, foram criados a partir de ideologias muito claras. De um lado, a social democracia, do outro, o socialismo. Podem ter sofrido influências no decorrer da última década, mas o que os distingue ainda é, dentre outros, o mesmo argumento de antes: a participação do Estado e da sociedade civil no andar da carruagem (carruagem=Brasil). Sem ideologia, Sr. Velloso Lucas, não há partidos. Aliás, não há política. E é isso, a meu ver, que falta ao povo brasileiro para que encarem com responsabilidade a política via democracia eleitoral. Precisa o povo identificar-se com ideologias, não com ídolos. O Brasil não votou no PT para assumir a presidência da república. O Brasil votou no Lula. Tanto, que se perguntarem para muitos “qual o partido do Lula?” creio haver um bom número de entrevistados que não saberiam responder. E olha que ele é conhecido no PT por ser um de seus fundadores. Agora, pergunta pro povo capixaba “qual o partido do Paulo Hartung?” ou “qual o partido do prefeito da sua cidade?”. Não saberão. Isso põe em cheque uma idéia de que os partidos representam, através de seus eleitos, o povo que votou nele. Não representa. Não representa porque eu sei que um pequeno agricultor não votaria num ruralista liberal, como aquela “ilustre” senadora, Kátia Abreu (DEM-TO), se soubesse que sua propriedade estaria ameaçada com políticas de agronegócio nocivas à agricultura familiar. Mas ele vota. Não representa porque eu sei que minha mãe e meu pai são muito mais socialistas do que liberais, mas ajudaram a eleger, com fervor, Fernando Henrique Cardoso por duas vezes. Hoje, amam o Lula. Vejam, não estou aqui banalizando a sabedoria inerente ao povo brasileiro. Que o povo é sábio, não há dúvidas. Sábio e “raçudo”! Mas é fato que a esse mesmo povo não foi dada a chance de ser politicamente independente. E quem diz isso não sou eu. Vários grandes autores, como José Murilo de Carvalho, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, têm argumentos fortes, contundentes, sobre o despreparo político histórico do nosso povo, acentuando-se no populismo varguista e na era desenvolvimentista e autoritária a que passou o Brasil, configurando o contexto atual, em que, entre outras coisas, vota-se em diferentes ideologias numa mesma eleição. Claro fica para entender esta realidade quando olhamos para o Estado do Pará, por exemplo, com dois senadores do PSDB e um do PSOL, sendo a goveradora, do PT. Este é só um exemplo. Fica claro que, por um lado, a liberdade do povo para votar em quem quiser está sendo efetivada. Mas por outro, a liberdade do povo em saber em quem está votando, em qual política aquele candidato defende junto ao seu partido, em saber e se identificar a respeito da ideologia deles... para tudo isso, o povo ainda não é livre. Falta, como disse um certo cientista político (que não sou capaz de lembrar o nome), educação política a partir, no mínimo, do ensino médio. Mas como introduzir isso para os jovens sem que se ouçam as mesmas queixas relacionadas às já obrigatórias disciplinas de sociologia e filosofia: “credo, que coisa chata, sem sentido e sem importância!”? É amigos, parece que começo a entender a tal crise da representação política a que tanto estudo nos meus devaneios de mestrado. Essa crise existe porque não existe ninguém representando, verdadeiramente, o povo brasileiro. Mas calma. Tenho paciência. A democracia brasileira, já com seus vinte e tantos anos, há de criar juízo. Há de fazer-se criar juízo.

3 comments:

Vinicius Maciel said...

meu comentário seria um Ctrl+C Ctrl+V de qualquer parte de um discurso do Cristóvam Buarque... "Educação, minha gente..." (e, pra vermos a magnitude do problema... a maioria dos - poquíssimos - jovens agraciados pela dita "educação de qualidade" no Brasil também é analfabeto político... ou ressignificamos a idéia de "Educação", ou atolamos ainda mais nos ídolos, e menos nas ideologias).

Marcelo (Sal) said...

Sábio Cristóvam Buarque... lembro-me de uma palestra que assisti, ao vivo, dele. Na ocasião, ele comparou brilhantemente educação e futebol. Imaginem todas as crianças tendo o mesmo acesso a educação de qualidade, assim como todas as crianças têm acesso a um pedaço de terra batida pra jogar bola. Destes campos, sabem os melhores jogadores do Brasil e do mundo (Robinho, Adriano, Pelé...). Das nossas escolas, sairiam os melhores intelectuais do nosso país, não fosse a oportunidade que a eles é negada.

Vinicius Maciel said...

e tem mais... essa foto é de uma icterícia sem tamanho!!!