Saturday, June 20, 2009

Engraçado. Sonhar tem alguma coisa de positivo? Se sonhamos com algo bom, ficamos triste porque não é realidade. Se sonhamos com algo ruim, ficamos tristes porque o sonho foi ruim. Para os que acreditam num fundo verídico dos sonhos, a esperança dos belos sonhos torna a vida um eterno "dormir", enquanto a certeza dos pesadelos torna a vida um eterno "acordar". Não quero sonhar, a não ser acordado.

Monday, June 08, 2009


Conclusões com oclusões


Passando os olhos pela TV Câmara, no início da tarde desta última segunda-feira, dia 08 de junho, me deparo com um interessante debate político num programa da emissora. Parei para assistir. Não só porque sentia o clima quente do debate, mas também porque um dos debatedores era Luiz Paulo Velloso Lucas, deputado federal pelo PSDB do Espírito Santo, meu Estado. Pensei “vamos ver o que ele diz em nome do povo capixaba!”. Não deu outra. A quantidade de asneiras que ele disse foi de uma magnitude que eu não conhecia. Ficou fácil para o outro debatedor, o deputado Fernando Ferro (se eu não me engano é esse o nome dele), do PT de Pernambuco, rebater. Tanto que durante a fala dele, o deputado capixaba não se continha e tentava reapresentar seus argumentos, atrapalhando o companheiro e desqualificando, tecnicamente e qualitativamente, o debate. A discussão permeava privatizações, crise mundial e Petrobrás. Como peguei o debate quase no fim, não saquei bem qual era o tema central. Mas o interessante é que dentre os argumentos do peessedebista havia uma ainda ilusão de um ideal de Estado mínimo (se possível, bem mínimo) e uma crítica ferrenha ao PT por ser contra privatização, sendo que, para completar, salientou que essa estória de Estado empresário é ultrapassada. O petista não precisou de muito para retrucar, dizendo que, só nos Estados Unidos (vejam! Estados Unidos... o mais fiel propagador do liberalismo), o Presidente Barak Obama já estatizou ou comprou ações de empresas e bancos em meio a uma crise que mostra cada vez mais como o liberalismo é ultrapassado e injusto com a grande maioria da população, ou seja, os pobres. Bom até aí, discursos ideológicos, não é? Não para o Velloso Lucas, que, insanamente, afirmou que o PT, ao contrário do PSDB, é repleto de ideologias! Páááára! O que faz um partido ser partido? E o que faz os partidos serem diferentes entre si? Exatamente sua ideologia, não? Óbvio que atualmente essa gama de partidos com ideologias confusas, ambíguas, atrapalham um pouco essa compreensão. Mas os partidos aqui citados, PSDB e PT, foram criados a partir de ideologias muito claras. De um lado, a social democracia, do outro, o socialismo. Podem ter sofrido influências no decorrer da última década, mas o que os distingue ainda é, dentre outros, o mesmo argumento de antes: a participação do Estado e da sociedade civil no andar da carruagem (carruagem=Brasil). Sem ideologia, Sr. Velloso Lucas, não há partidos. Aliás, não há política. E é isso, a meu ver, que falta ao povo brasileiro para que encarem com responsabilidade a política via democracia eleitoral. Precisa o povo identificar-se com ideologias, não com ídolos. O Brasil não votou no PT para assumir a presidência da república. O Brasil votou no Lula. Tanto, que se perguntarem para muitos “qual o partido do Lula?” creio haver um bom número de entrevistados que não saberiam responder. E olha que ele é conhecido no PT por ser um de seus fundadores. Agora, pergunta pro povo capixaba “qual o partido do Paulo Hartung?” ou “qual o partido do prefeito da sua cidade?”. Não saberão. Isso põe em cheque uma idéia de que os partidos representam, através de seus eleitos, o povo que votou nele. Não representa. Não representa porque eu sei que um pequeno agricultor não votaria num ruralista liberal, como aquela “ilustre” senadora, Kátia Abreu (DEM-TO), se soubesse que sua propriedade estaria ameaçada com políticas de agronegócio nocivas à agricultura familiar. Mas ele vota. Não representa porque eu sei que minha mãe e meu pai são muito mais socialistas do que liberais, mas ajudaram a eleger, com fervor, Fernando Henrique Cardoso por duas vezes. Hoje, amam o Lula. Vejam, não estou aqui banalizando a sabedoria inerente ao povo brasileiro. Que o povo é sábio, não há dúvidas. Sábio e “raçudo”! Mas é fato que a esse mesmo povo não foi dada a chance de ser politicamente independente. E quem diz isso não sou eu. Vários grandes autores, como José Murilo de Carvalho, Sérgio Buarque de Holanda, Darcy Ribeiro, têm argumentos fortes, contundentes, sobre o despreparo político histórico do nosso povo, acentuando-se no populismo varguista e na era desenvolvimentista e autoritária a que passou o Brasil, configurando o contexto atual, em que, entre outras coisas, vota-se em diferentes ideologias numa mesma eleição. Claro fica para entender esta realidade quando olhamos para o Estado do Pará, por exemplo, com dois senadores do PSDB e um do PSOL, sendo a goveradora, do PT. Este é só um exemplo. Fica claro que, por um lado, a liberdade do povo para votar em quem quiser está sendo efetivada. Mas por outro, a liberdade do povo em saber em quem está votando, em qual política aquele candidato defende junto ao seu partido, em saber e se identificar a respeito da ideologia deles... para tudo isso, o povo ainda não é livre. Falta, como disse um certo cientista político (que não sou capaz de lembrar o nome), educação política a partir, no mínimo, do ensino médio. Mas como introduzir isso para os jovens sem que se ouçam as mesmas queixas relacionadas às já obrigatórias disciplinas de sociologia e filosofia: “credo, que coisa chata, sem sentido e sem importância!”? É amigos, parece que começo a entender a tal crise da representação política a que tanto estudo nos meus devaneios de mestrado. Essa crise existe porque não existe ninguém representando, verdadeiramente, o povo brasileiro. Mas calma. Tenho paciência. A democracia brasileira, já com seus vinte e tantos anos, há de criar juízo. Há de fazer-se criar juízo.

Monday, June 01, 2009

O poder da criança


Filmes! Como disse anteriormente, pensar através de suas mensagens é um exercício desejável. Para alguns, inevitável.
Mais uma vez, venho de uma seqüência de dois filmes que se completam. “O Menino do Pijama Listrado (2008)” e “Vermelho como o Céu (2006)”.
Sendo direto e esquivando-me das críticas técnicas que tenho lido sobre os filmes, apesar de muito poucas, atentei para uma luz que estas estórias nos apresentam. Ambas tratam de crianças. O primeiro, baseado em um romance homônimo, trata de um ingênuo e mimado garoto, filho de um soldado nazista de alta patente, que, sem saber de quem se tratava, fica amigo de um judeu de sua idade, 8 anos. O segundo, uma estória verídica de um bem sucedido editor de som da Itália que, na década de 1970, aos 10 anos de idade, sofre um acidente doméstico em que perde a visão e é mandado para uma escola especial para cegos, em Gênova. Eis minhas “conclusagens” (conclusões e viagens).
Vendo o primeiro filme, O Menino do Pijama Listrado, penso que o preconceito dos mais variados tipos pode muito bem ser solucionado com a ingenuidade da criança. Ao se tornar amigo de um judeu, o menino estava despido, pelo menos por enquanto, de toda a educação nazista da época. Enquanto seu professor, sua irmã, seu pai, seu avô, em fim, todos, empurravam-lhe um conceito consensual sobre a maldade do povo judeu, o garoto, ao conversar com seu amigo, não percebia isso. E o desfecho do filme consagra uma amizade impossível. Imagino que, trazendo à realidade, poderíamos pensar que muitos conceitos formados em casa, com ajuda dos pais, parentes e professores, poderiam ser diferentes. Imaginem uma nação em que crianças ricas e pobres, negras e brancas, saudáveis ou com alguma espécie de deficiência, bonitas ou feias, em fim, se todas as crianças convivessem harmoniosamente num espaço universal, em que não houvesse escola de ricos e pobres, não houvesse ambientes para diferentes classes sociais, em que os serviços de saúde comportassem a todos com qualidade e quantidade suficientes. Por mais que, em casa, os pais, munidos de uma educação conservadora e preconceituosa, falassem, desvirtuassem os filhos, a vivência mostraria o contrário e essas crianças seriam capazes de crescer entendendo que a diferença entre eles e as outras crianças é que eles estão tendo vivências diferentes. Quando adultos, essas crianças, conscientes desta vez, seriam capazes de entender que a mudança do mundo está na solidariedade e na não afetação do outro para seu próprio crescimento. Ajudariam não por caridade ou massageamento do ego. Ajudariam por gostarem e se identificarem com essas pessoas.
Bom, e quanto ao “Vermelho como o Céu”? Esse serve como contraprova para aqueles que pretendem insinuar que as crianças não têm capacidade de discernimento e inteligência para mudarem o mundo desde já, necessitando da instrução dos pais. Ele nos mostra que a capacidade de mudança inerente à infância é muito maior e mais eficiente do que em qualquer adulto.
É ver para entender. Recomendo muito ambos os filmes.