Monday, January 14, 2008

O Natal
Então, foi Natal. Que bonito. As famílias se encontrando e comemorando... comemorando o que mesmo? Ah sim, desculpem: comemorando a época do presenteamento universal(1). E o comércio, como efeito cascata (de dinheiro), comemora um dos anos mais rentáveis para o setor. Ótimo... e viva o Lula.
Pois bem, como eu ia dizendo, o Natal é uma época linda. Nessa época, segundo as próprias pessoas, um espírito de solidariedade ronda os ares de todos os lugares. As pessoas saem por aí fazendo, dentre outras coisas (como comprar, beber e viajar), o bem. Matam a fome das crianças, sendo que ainda há os que, além disso, dão presentes pra elas (as lojas de 1,99 que o digam...). Ajudam famílias necessitadas. Saem das suas confortáveis casas e visitam (nessa época) os bairros mais pobres, mais carentes, mais miseráveis... aqueles bairros cujos nomes todos se perguntam ao ver escrito no itinerário do ônibus cheio de pobres: “Onde fica essa ‘croca’?”... e que quando descobrem onde fica as crocas da sua cidade pensam (não falam): “Putz... isso é um bairro?”. “Ainda bem que só há um Natal por ano.”(2).
Retorno à idéia principal: o Natal é lindo. E com essa era de conscientização sobre preservação do meio ambiente então, nem se fala. Árvores de natal manufaturadas com frascos plásticos descartáveis de refrigerante estavam presentes em todas as cidades, bairros e casas. Coisa linda de se ver. O brasileiro sentiu-se orgulhoso de tanta conscientização. É uma pena que nessa época linda o consumo de refrigerante aumente possivelmente na mesma proporção do que as quantidades de frascos utilizadas para construir as árvores. E como se não bastasse, segue um diálogo entre eu e meu pai, em frente à árvore de Natal de garrafas descartáveis do meu bairro:
Eu – Pai... quando vão retirar essa árvore daí?
Pai – Acho que essa semana, depois do dia 06.
Eu – E o que vão fazer com esse monte de garrafa?
Pai – O presidente da associação do bairro me disse que vão jogar no lixo.
No lixo. Exatamente. Deu trabalho para crianças e artistas, ficou menos bonita do que uma típica árvore original de pinheiro, e ainda por cima vão devolver ao lixo aquilo que este nos cedeu com tanta graça, com tanta alegria e com tanta esperança de que não voltassem. Não é difícil generalizar o caso do meu bairro para o resto do mundo. Mesmo porque, o que fariam com tanta garrafa durante o ano todo? Mesmo que guardassem para o próximo natal, que fim daríamos para todas as garrafas que serão produzidas ao longo desse ano? Deixa pra lá... formas sustentáveis de reutilização de plástico e outros lixos existem e já foram mostradas. Não é neste blog que estará a cura para a bronquite crônica do planeta Terra.
O que é isso, gente? Natal é época linda sim. A época do nascimento de Jesus. A religião deixa o período de hibernação e esquenta o coração das pessoas(3).
Natal também é época de se escrever textos que falem do Natal, para o bem (como este) ou para o mal. Também é época da Simone ganhar dinheiro com aquela velha música “Então, é Natal...”. Corais cantam músicas natalinas, operadoras de celulares vendem toques natalinos, as propagandas na TV só se referem ao Natal e o Willian Bonner destina metade do Jornal Nacional para falar de compras, papai Noel, solidariedade e, claro, troca de presentes no dia 26 de dezembro.
O Natal é lindo. Mas acho melhor parar por aqui.

(1). Entende-se “universal” como um conceito restrito enquanto ato, mas completo enquanto idéia lançada à sociedade.
(2). Esse pensamento pode ter se dado logo após o pensamento anteriormente citado... ou não... pode também ter sido o primeiro e único pensamento pensado.
(3). Religião não se discute. Um parágrafo de duas linhas é suficiente. Sei que todos os cristãos foram à Igreja neste Natal e viram a missa do Galo do Papa na TV.

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